Até agora, o presidente Lula da Silva parece fazer cara de paisagem quando dois dos seus ministros – Luiz Marinho (Trabalho) e Carlos Luppi (Previdência Social) batem de frente contra os cortes orçamentários que o governo programa para suas pastas dentro do programa de ajuste que objetiva evitar (ou diminuir) o déficit entre arrecadação e desembolso. Deveria tratá-los como ministros (auxiliares do governo) e não como ex-colegas sindicalistas que, pela natureza da postulação, muitas vezes são obrigados a blefar quando discutem com o patronato os interesses dos trabalhadores, seus representados.
Por mais consideração que possa ter pelos ministros – hoje verdadeiros dinossauros do sindicalismo e da política – o presidente tem o dever de manter a estabilidade do governo. Quando dá de ombros às declarações ácidas dos auxiliares, parece estar fazendo pouco ou, então, dando-lhes corda para ver até onde podem chegar e, no momento que lhe pareça indicado, adotar providência adequada.
É certo que Lula –um governante de perfil gastador e voltado para os gastos sociais das bolsas e auxílios – só está cedendo à política de cortes orçamentários porque ameaçado pelo mercado e a expectativa de que, se nada fizer, terá de amargar o desequilibrio e a crise econômica. Tenta se desvencilhar da responsabilidade -, ora culpando os juros, o Banco Central, o mercado, o Congresso Nacional e até a imprensa – mas parece ter chegado a hora de fazer algo. E acaba ficando entre as preocupações e advertências trazidas pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento), o ativismo dos seus amigos que fez ministros e hoje se colocam em oposição ao que o Governo, a duras penas, terá de executar. É sofrer duas vezes, a primeira pelo que as circunstâncias o obrigarão a fazer e a segunda pela reação dos ministros ex-colegas sindicais.
Nenhum administrador público – presidente, governador, prefeitos, ministro ou secretário – gosta de cortar gastos. O bom para a ação política é distribuir benesses (justas ou injustas) e, principalmente, auferir o resultado eleitoreiro da bondade executada com o erário. <Marinho, Luppi e outros que, não explicita mas veladamente, se colocam contra a redução de gastos deve, se acautelar pois, se a ingestão do remédio amargo for inevitável, poderão não sobreviver em seus postos. É verdade que o Partido dos Trabalhadores de hoje não é o de ontem e muito menos o do passado, quando, como se diz na mesa de jogo, dava as cartas e jogava de mão (primeiro que os outros jogadores).
As recentes eleições municipais representam um grande problema ao partido que, embora governe o País, não conseguiu eleger um número expressivo de prefeitos, especialmente nas cidades médias e grandes. Já vimos Lula dizer que, em 2026, “se não tiver ninguém”, ele mesmo faz o sacrifício de concorrer a um próximo mandato presidencial. É preciso identificar qual a sua força partidária depois do mau desempenho de outubro. Até onde o seu nome continua figurando na tabuleta como “dono” do partido, como foi durante tantos anos.
Temos que o corte da eleição de 2024 traz novidades no panorama político. Na direita, a decolagem de Pablo Marçal, que quase passou para o segundo turno na eleição de prefeito de São Paulo, demonstra que a tendência não tem dono. E parece que o ex-presidente Bolsonaro (tido nos últimos anos como seu proprietário) já compreendeu isso e admite parcerias com Marçal, Ronaldo Caiado e outros nomes da tendência que sejam palatáveis. Na esquerda poderá acontecer o mesmo. Lula como donatário pode não ter mais a representação forte de antigamente e, quando é obrigado a tomar medidas impopulares, é obrigado a assistir (até agora em silêncio) a ameaça de companheiro de jornada abandonarem o barco. Estaria chegando o momento de ser obrigado a tomar café frio e não encontrar mais interlocutores? A possibilidade vôo dos dinossauros sugere algo dessa natureza.
Salvo melhor juízo, o País funcionacom regularidade, mesmo necessitando de ajustes. Este deve ser discutido pela equipe de governo a portas fechadas e a conclusão, ao final, anunciada à população. Não cabe em hipótese nenhuma questionamento público de ministro ou der qualquer outro nomeado para auxiliar o governante e muito menos a ameaça de que “se não voltar atrás em me demito”. Quando ocorre, transmite à população a imagem de que não há governo, o que é perigoso e pode levbar ao caos. Ministro que fala oublicamente contra a decisões de seu chefe, realmente tem de sair e se não pedir demissão, deve ser demitido. Para evitar que o palácio seja confundido com a popular Casa de Mãe Joana…
Senhor presidente, exerça o seu poder e direito de governanar. Não aceite ingerências públicas que, não respondidas, podem paracer fraquezas, mesmo que não sejam…
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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