Não foram apenas os belos gols ou talentos individuais que chamaram a atenção no 1º Campeonato Brasileiro de Clubes de Ligas, mas sim, histórias de superação e muito amor ao esporte. Relatos de personagens, vindos de diversas localidades do país, ganharam destaques ao longo dos sete dias da competição, disputada entre os dias 10 e 17 de novembro, em Macapá (AP).
Todo o ‘glamour’ do futsal, visto pela maior parte da imprensa ou da torcida, deu lugar ao futsal praticado e vivido por verdadeiros heróis. Jovens, criados em regiões onde a pobreza se faz presente, mas que têm exatamente o mesmo ideal: defender uma grande equipe e vencer na modalidade.
Exemplo de toda esta luta são os atletas e comissão técnica do Maraã Futsal, equipe da cidade de Maraã, a qual fica a 615 km de Manaus (AM). Para chegar até Macapá, viajaram oito horas em um barco, onde a ansiedade e até mesmo o medo, por conta das fortes ventanias (principalmente à noite), foram adversários difíceis de serem batidos.
No entanto, nada que supere o drama vivido pelo atleta e Diretor Ednei Sena da Silva. Poucos dias antes da viagem, Ednei perdeu uma filha, de 18 anos, após um assalto, por conta de um celular.
A jovem, que praticava Jiu-Jítsu, reagiu ao assalto, mas foi golpeada por um dos criminosos, que portava uma faca. Segundo informações, um dos culpados foi pego pela PM local, enquanto outro (até o momento), segue foragido.
Ednei, que há alguns anos, iniciou um projeto para tirar jovens da marginalidade, por meio do esporte. Mas, por uma infeliz ironia do destino, a vida de sua filha foi interrompida, justamente pela criminalidade.
Em conversa com a nossa equipe, ainda muito abatido por tudo que aconteceu, Ednei resumiu: “Ainda dói muito, saber que perdi minha filha desta maneira. Mas tudo aqui, será por ela”.
Saindo de Manaus, e indo para o Estado do Pará, mais precisamente, na cidade de Tomé-Açu (115 km da capital Belém), a vida de Ricardo Martins de Souza tomou um rumo diferente. Ainda aos 11 anos, Ricardo foi picado, em uma das pernas, por uma “Pico de Jaca”, também chamada de Surucucu.
A ação do veneno da cobra foi praticamente imediata, tanto que Ricardo precisou amputar uma das pernas. Caso contrário, dificilmente iria sobreviver.
Mesmo com parte da infância e adolescência ter sido interrompida, Ricardo não desistiu de
seus sonhos. No entanto, a meta primordial era sua recuperação física e metal. Segundo o
jogador, o apoio dos pais e amigos foram essenciais neste processo:
Com o passar dos anos, Ricardo foi se adaptando (já com o uso de uma prótese) e a prática
esportiva estava cada vez mais perto. Pelada com os amigos e jogos oficiais no Projeto
“Toque de Classe”, também foram (e são) fundamentais na vida de Ricardo, hoje com 22 anos
de idade.
Ricardo leva a vida normalmente, e fala sobre a descontração nos vestiários e situações
inusitadas:
“O pessoal brinca, faz piada, mas levo numa boa, até porque é tudo dentro do respeito.
E uma situação inusitada, aconteceu durante a nossa viagem ao Amapá, quando o detector
de metais, no aeroporto de Belém, acionou na minha passagem, por conta da minha prótese.
Precisei tirar, e colocar em uma esteira. Foi um momento engraçado”, diz.
José Niel, ou simplesmente “Niel”. Este é um daqueles que vale a pena ficar na ‘resenha’
por horas e horas. Com 26 anos de idade, este pivô, nascido em Macapá, foi peça fundamental,
ao lado de outros motoristas, no processo de translado de atletas e imprensa.
Durante o dia, Niel atua como motorista de aplicativo, mas na hora de ir às quadras,
trocava seu uniforme para defender as cores do Residência EC, do Rio de Janeiro.
O convite para jogar na equipe carioca, surgiu de maneira inesperada, uma vez que o atleta
atua no Panamá Futsal, clube da sua cidade e gerenciado pelo seu pai. Mas, por meio de seu
perfil no Instagran, a Diretoria da equipe carioca gostou da sua forma de jogar e fez o
convite:
“Eu sou grato pelo Residência, Grato, porque estou mostrando meu futsal. Que não queria
estar jogando um Brasileiro dentro de sua casa? Eu preferi jogar, mais por conta de ser
dentro de casa. Eu vou jogar por um time do Rio, mas vou representar o meu Estado também.
Tem outros jogadores do Residência que também são daqui da terra. Alguns já se destacaram,
como o Everton, o Patrick, o Edmilson e a gente ficou feliz por receber este convite”.
No entanto, a estreia na competição não foi a planejada pelo jogador. Durante a partida
contra o São Paulo, o goleiro titular, Diego sofreu uma lesão, e atuou no seu limite.
Como não havia camisa para o goleiro-linha, coube ao pivô Niel, a assumir a meta do
Residência, já no segundo período. Mas, mesmo com todo esforço, o ‘arqueiro improvisado’,
não evitou o placar adverso.
Porém, vale lembrar que o Residência estava sem boa parte de seus jogadores e só no
decorrer do torneio, os reforços chegaram ao Macapá.
Por Lucia alves
fonte – Assessoria de imprensa – jornalista Gilberto Santos
foto: Isaac Silva (@isaacsilvaphotograph)
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