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Quase 400 pessoas das cenas abertas de uso voltaram à autonomia após entrada pelo Hub de Cuidados

Equipamento do Governo de SP, no centro da capital, completa um ano como instrumento de retomada na vida de pacientes

Aline Oliveira Lima, 33 anos, mora em Campinas e concilia os estudos com o trabalho em um shopping da cidade. O plano é terminar o Ensino Médio e entrar na faculdade.

Há nove meses, a usuária de drogas desde os 13 anos entrava no Pronto Atendimento do Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas, do Governo de São Paulo, para uma nova tentativa de tratamento para a dependência química.

De lá, foi encaminhada para uma Comunidade Terapêutica em Campinas, da Secretaria de Desenvolvimento Social.

“Esse lugar salvou a minha vida”, afirma. Na Comunidade, Aline passou pelas fases de tratamento, que inclui um período inicial de acolhimento e depois de adesão, quando são oferecidas atividades em grupo e capacitação profissional. Fez cursos de panificação, manicure e auxiliar de culinária, todos com certificação.

Na sequência, veio a fase de reinserção, quando passou a morar em uma República Terapêutica próxima da Comunidade. Nessa fase, os acolhidos possuem autonomia para sair de casa, cuidar de seus pertences, alimentação e da higiene da casa. “Passei três meses lá, foi onde eu consegui ficar mais firme ainda”, diz Aline.

Após um ano de funcionamento do Hub de Cuidados, completados neste mês de abril, 391 pessoas que estavam nas cenas abertas de uso atualmente se encontram na fase de autonomia, após passarem por equipamentos como Repúblicas, Comunidades Terapêuticas e Casas Terapêuticas. Para a prevenção, acompanhamento psicossocial das famílias dos dependentes e àqueles que estão em fase final de tratamento, o Governo de São Paulo conta com o Espaço Prevenir.

Natural do Piauí, Aline chegou a São Paulo aos 16 anos e conta que já havia passado por quatro internações antes de chegar à Comunidade Terapêutica por meio do Hub. “Tenho muito a agradecer a esse serviço, foi de lá que eu consegui chegar até aqui”, celebra.

Hoje, ela mora sozinha em um apartamento alugado e está cursando a Educação para Jovens e Adultos para concluir o Ensino Médio. Quase um ano depois de ter entrado no Hub a procura de ajuda, se sente pronta para dar seguimento aos planos para o futuro, longe das drogas. “Consegui ter a minha vida de volta. Ainda estou em dúvida sobre qual faculdade fazer. Quero psicologia ou fisioterapia, são duas áreas que gosto muito”, planeja.

Consegui me enxergar sem a droga

Aline é apenas um dos exemplos de vidas transformadas por meio da porta de entrada do Hub de Cuidados. Ao todo, foram mais de 16 mil pessoas atendidas neste primeiro ano de funcionamento, sendo 11,5 mil pacientes encaminhados para tratamentos em comunidades terapêuticas ou hospitais especializados.

André Luis Hipólito, 47 anos, é outro que teve o Hub como ponto de partida para um recomeço. Frequentador das cenas abertas de uso, no centro da capital, ele chegou ao equipamento para pedir ajuda contra o vício. Após ser atendido, passou a morar na Unidade Recomeço Helvetia URH, equipamento ligado à Secretaria de Saúde que oferece moradia assistida e acolhimento para usuários e pessoas em vulnerabilidade.

No local, André conta com acompanhamento médico, convive com outros acolhidos e tem acesso à capacitação profissional e educação financeira. Como requisito para a estadia, ele continua frequentando Hub para dar sequência ao tratamento, fazendo atividades em grupos de ressocialização e acompanhamento psicossocial.

“Todo mundo tem uma história, com suas lutas, não sou diferente de ninguém. Esse período de adaptação para mim foi muito importante porque eu consegui enxergar o André sem droga”, afirma. Com o tratamento, ele voltou a exercer a profissão de artesão, passou a ter conta bancária e autonomia.

“A porta de entrada para isso tudo foi o Hub. Hoje, estou deslanchando para uma vida com possibilidades reais. Consigo lidar com frustrações, raiva, tristeza e alegria, sem ter a droga como subterfúgio. Foi um processo mudar a maneira de pensar e agir, evitar pessoas, lugares e hábitos. Agora, isso faz sentido. E tudo com a ajuda desses profissionais que aqui trabalham”, relata.

Como funciona o Hub

Situado na região da Estação da Luz, no centro de São Paulo, o Hub serve como porta de entrada de urgência e emergência para pessoas que apresentam quadros agudos de dependência química, atendendo prioritariamente usuários das cenas abertas. Eles passam por uma avaliação clínica multidisciplinar e, quando necessário, são encaminhados para um tratamento individualizado, de acordo com o perfil de cada usuário. Os encaminhamentos são para hospitais especializados, outros tipos de unidades de saúde e comunidades terapêuticas.

O Hub ainda oferece acompanhamento de atenção psicossocial para pacientes que já passaram pelo período de internação. Com quadros mais estabilizados de dependência química, o objetivo é auxiliar no processo de reinserção social.