Terminado o tempo da prioridade absoluta ao resgate das vítimas (pessoas e animais) em risco de morte, os gaúchos presenciavam a baixa das águas e só agora acessam a crueza do deplorável quadro de destruição. Foi-se o patrimônio amealhado por toda a vida e até por mais tempo, já que muitos começaram a se formar por pais, avós e outros ancestrais dos atuais titulares. Porém, a vida – bem maior – felizmente, resistiu à tormenta e enseja o recomeçar.
Chegou a hora dos governos diante das instâncias – federal, estadual e municipal – cumprirem, sem delongas, as promessas feitas por seus líderes sob o impacto da calamidade. Com as providências de urgência já definidas, começam a sair de cena os voluntários, que voltam a cuidar da própria vida. Espera-se agora a ação do poder público e das forças organizadas da sociedade.
Os flagelados precisam receber o Pix de R$ 5,1 mil prometido pelo presidente, a ajuda anunciada pelo governador e o apoio das prefeituras para voltar à vida normal e produtiva. Têm de saber, por exemplo, onde serão reconstruídas as moradias mais fortemente destruídas pelas águas (que poderão voltar); providenciar as casas do programa Minha Casa Minha Vida; refazer os sistemas de abastecimento, saneameto e tudo o que a população carece e foi destruído.
Da mesma forma que raleiam os voluntários, logo também diminuirão as doações humanitárias. O povo abrigado tem de continuar comendo e vivendo nos locais provisórios até que cada um possa voltar à sua rotina e manter-se às próprias custas. A vida precisa reentrar nos eixos no menor tempo.
Ao lado do socorro à vida, os poderes públicos e a sociedade devem envidar todos os esforços para colocar em pé os negócios que a água solapou. Sem eles não haverá emprego e o sobrevivente do desastre não terá como ganhar o sustento.
O presidente Lula garantiu aos prefeitos que, em marcha reivindicatória foram encontrá-lo em Brasília, que o governo fará tudo pela reconstrução do Rio Grande do Sul e que terá o mesmo compromisso com os demais Estados e municípios que vierem a ser impactados por crises climaticas.
Se me permite o senhor presidente, digo-lhe que é preciso fazer mais. Se o Estado sulino tivesse recebido manutenção adequada de seus equipamentos ao longo dos anos, o recrudescimento do clima poderia até ter provocado problemas, mas não a necessidade que vemos hoje de reconstrução das cidades e de praticamente tudo o que nelas havia.
Em vez de prometer tratamento igual aos federados, ao mesmo tempo que estiver recuperando o Rio Grande do Sul, não espere a desgraça se abater em outro ponto do território nacional. Aproveite o conhecimento dos técnicos dos órgãos de governo e das universidades (boa parte delas mantida por verba pública), que já realizaram centenas de visitas a países que dominaram as águas bravias e o clima inclemente em busca de informações..Esse pessoal saberá diagnosticar o problema de cada região e montar projetos que possam impedir ou minimizar as catástrofes como essa que faz sofrer os nossos irmão do Sul. Não espere a chuva; antecipe-se a ela.
Para concluir: além dos projetos técnicos e sua execução, trate, junto ao Congresso Nacional, também de criar leis que funcionem como um “manual” de manutenção dos esquemas de proteção climática. Não permita a repetição do ocorrido no muro e comportas do rio Guaiba e no sistema de bombeamento de Porto Alegre, que falharam na necessidade maior. A inexistência ou inadequação de conservação inutiliza os equipamentos que no passado tiveram elevado custo e traziam finalidade definida. União, Estados e municípios têm de ser conduzidos a participar de um pacto onde cada um desses entes tenha obrigações e meios para cumpri-las. Sem isso, o problerma se eternizará…
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
tenentedirceu@terra.com.br
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