As divergências dos últimos dias, entre os presidentes Lula e Trump, nos conduzem de volta à adolescência e à estória daquele pequeno país que teve a ousadia de declarar guerra aos Estados Unidos, já na época a maior potência econômica e bélica do planeta e – segundo o dito de então, mesmo possuindo apenas 20 flecheiros como combatentes, venceu a disputa sem, no entanto, ter como aproveitar os benefícios da vitória por absoluta falta de idéias e possibilidades do que fazer contra os norte-americanos.
Tanto a declaração quanto a guerra do pequeno país não existiram. Foram apenas a demonstração de que o pequeno jamais consegue suplantar o grande. O ano era 1959 e o país imaginário ducado de Grand Fenwick, que recorreu ao estratagema da guerra para conseguir alguma indenização dos Estados Unidos nos mesmos moldes de países que se sentiram prejudicados na Segunda Guerra Mundial e conseguiram o benefício, algo similar ao Plano Marshall, que reconstruiu as partes devastadas da Europa e do Japão no pós-guerra. Mas no caso de uma diferença é fundamental. Não houve gerra. Tudo não passou do argumento do filme “O rato que ruge”. A obra cinematográfica serviu para divulgar o quadro de poder entre as nações e demonstrar que o pequeno vencer o grande é pura ficção.
Passados mais de 60 anos, a única questão que resta colocada é a potência dos grandes e a fragilidade dos pequenos países. A cruzada que o presidente americano, Donald Trump vem desenvolvendo com tarifaço e outras medidas instabiliza as relações dos EUA com o resto do mundo. E o Brasil, ao mesmo tempo em que reivindica negociar, critica a posição do governo de Washington. Desde que os americanos aumentaram as tarifas dos produtos brasileiros exportados para aquele país, há uma forte pendência que também envolve aspectos políticos e de direitos humanos. Os EUA estão com seu exército estacionado no Mar do Caribe e a qualquer instante poderá atacar a Venezuela, a Colômbia e outras nações com governos de esquerda.
Salvo melhor juízo, a posição mais adequada ao Brasil – apesar do viés esquerdista do governo Lula – seria a neutralidade, pois há pendências a negociar entre Brasilia e Whashington. Mas Lula – tão voluntarioso quanto Trump, compareceu à reunião dos países de governo esquerdistas e não poupou críticas aos EUA, mexendo, inclusive, na questão do dólar como moeda internacional, uma tese que os americanos nao gostam nem de ouvir.
O ocorrido pode dificultar a missão do vice-presidente Geraldo Alckmin, do chanceler Mauro Vieira e do ministro da Fazenda Fernando Haddad, designados pelo próprio Lula para negociar os interesses brasileiros perante os estadunidenses. Torcemos para que o proselitismo de Lula não dificulte os possiveis acordos e nem coloquem o Brasil na lista dos países que, por ideologia dos seus governantes, possam sofrer ocupação e ação militar americana.
Donald Trump está iniciando uma ação internacional contra o narcotráfico. Já afundou barcos venezuelanos que supostamente levavam drogas aos EUA e poderá fazer o mesmo em relação à Colômbia. Esperemos que com o Brasil não hajam maiores desentendimentos. Até porque a questão brasileira é mais econômica do que política. Temos uma grande gama de produtos para colocar no mercado norte-americano e eles estão hoje acrescidos do imposto de 40% criado no tarifaço. O agronegócio brasileiro espera solução e torce para que tudo se resolva pacificamente. Que a ideologia – de esquerda, direita ou centro – não seja complicador para as boas relações dos dois países. A solução Brasil-EUA é de interesse direto de quase 600 milhões de indivíduos: 212 milhões de brasileiros e 360 milhões de norte-americanos. Que antes de se envolverem em conflito, os governantes e suas esquipes pensem nesse vasto contingente de representados. Afinal, foram eleitos com a finalidade de governar para eles...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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