Nesta terça-feira (23), quando, em cumprimento à tradição de o Brasil abrir a assembleia geral da ONU (Organização das Nações Unidas) o presidente Lula estiver pronunciando discurso inicial, aquele organismo iniciará as comemorações do seu 80º aniversário de fundação. No dia 26 de junho de 1945, quando terminada a 2ª Guerra Mundial, um grupo de 51 países reuniu-se em San Francisco (Califórnia), onde assinou a Carta das Nações Unidas, que entrou em vigor no dia 24 de outubro daquele ano, a partir de então, considerado o Dia das Nações Unidas.
O objetivo da entidade era (e continua sendo) promover a paz, a segurança e a cooperação internacional. Porém, ao completar oito décadas de atividade, o organismo encontra-se distante do clima festivo almejado, convivendo com guerras em andamento ao redor do mundo, uma crise orçamentária se aproximando e dúvidas crescentes.
A guerra da Rússia contra a Ucrânia já dura mais de três anos. O conflito entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza se estende por quase dois. E o mundo segue distante de atingir suas metas de desenvolvimento ou de encontrar uma solução para a mudança climática. Mesmo a ajuda humanitária global da ONU — uma das poucas áreas em que a organização ainda se destaca e lidera — está agora ameaçada por cortes de orçamento, falta de interesse dos doadores e redução de pessoal. Preocupa o conflito EUA – Venezuela, onde o governo Trump já enviou tropas e material bélico ao Caribe e, segundo a especulação internacional, poderá envolver-se militarmente em vários países com governos de tendências à esquerda. Da mesma forma, o tarifaço aplicado por Washington às suas importações, já começa a fazer estragos econômicos (especialmente desemprego) em diferentes países, inclusive no Brasil.
Particularmente a nós, brasileiros, preocupa saber que os presidentes Lula e Trump estarão ao mesmo tempo no prédio da ONU – onde discursarão um em seguida ao outro – é provável que até cruzem pelos corredores, mas não têm qualquer reunião ou encontro previsto. Pouco nos importam as diferenças ideológicas entre ambos, mas é sério saber que a falta de entendimento poderá ocasionar danos econômicos e sociais aos dois países, que conviveram bem por dois séculos e só agora divergem e parecem não terem o propósito de mitigar as diferenças. Perder a oportunidade do encontro quando ambos estão no mesmo prédio, nos parece ser demais e até desrespeito para com os povos dos dois países.
Além das dúvidas e inconveniências vindas de Nova York, temos as incertezas de Brasilia. O relator da matéria no Senado anuncia que vai abortar a PEC da Blindagem, aprovada na Câmara dos Deputados, que impede ações judiciais contra parlamentares sem a prévia autorização da casa legislativa onde ele exerce seu mandato. E o deputado Paulinho da Força, feito relator do projeto da anistia aos envolvidos nos distúrbios de 8 de janeiro de 2023, trabalha para transformar o perdão em redução dó tamanho da pena e rebatizá-lo como dosimetria. A idéia é que Paulinho e o presidente da Câmara, Hugo Motta, cederam às pressões do governo desde o princípio porque, além dos invasores do prédios públicos depredados, o perdão poderá também estender-se ao ex-presidente Jair Bolsonaro e a seus ex-auxiliares, hoje processados por tentativa de golpe de Estado.
Se não agirem com sinceridade e comprometimento, os políticos envolvidos na questão não chegarão a uma solução. Anistia, perdão ou blindagem exigem consenso e, se não for assim, tornam-se inviáveis. Os membros do governo, que hoje são contrários e beneficiários do perdão de 1979 devem comparar aquilo que os favoreceu décadas atrás com o vivido em 2023 e só depois dessa análise, fazer sua opção. É preciso compreender que só a anistia será capaz de devolver a regularidade política e institucional do nosso judiado País. Sem ela, correremos o risco de enveredar rumo ao caos e à desagregação. Quem defende a democracia tem o dever de lutar pela anistia porque, no atual quadro nacional, uma não sobrevive sem a outra...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
Você também pode gostar
Em defesa da competência pública dos DETRANs na execução extrajudicial de garantias veiculares
Remédio da cultura indígena contra o câncer
Professor Niltinho recebe prêmio da ABIME