Em 1985. quando os militares de 1964 devolveram o poder aos civis – muitos deles vindos do exílio ou das prisões políticas – o País mergulhou num momento de esperança. A Nação nutria a ideia de melhores dias e de paz, algo até então escasso, principalmente aos que se opuseram ao período de exceção. Dizia-se aos quatro ventos que viveríamos numa pátria humana e solidária, diferente em essência, do que a das duas décadas anteriores.
Com os políticos que voltaram a atuar vieram as idéias por eles recolhidas em suas andanças por todos os quadrantes do planeta. Para começar a grande mudança, o presidente José Sarney convocou a Assembleia Nacional Constituinte com a tarefa de levar um novo e moderno país às gerações seguintes. A Constituição foi promulgada em 5 de outubro de 1988 e permanece em vigor até hoje, apesar das queixas de desrespeito a parte do seu texto.
O novo Estado brasileiro, surgido sob o estandarte de Nova República, rejeitou o legado dos militares e teve a liberdade como mote principal. Mas não conseguiu consolidar a paz e a tranquilidade sonhada no advento da redemocratização. O primeiro presidente eleito após o período em que os governantes eram escolhidos nos quartéis e referendados pelo Colégio Eleitoral, Fernando Collor de Mello, foi afastado por impeachment em 1992 e teve o mandato concluído pelo vice Itamar Franco. Depois veio o ex-exilado Fernando Henrique Cardoso, que conseguiu incluir na legislação a reeleição para cargos executivos e governou por dois mandatos sucessivos. Após FHC, elegeu-se Lula, o sindicalista que desde o regime militar buscava eleger-se e fez parte da Constituinte de 1988, Dilma Rousseff, apoiada por Lula, foi sua sucessora, mas o impeachment a derrubou no meio do segundo mandato. Seu vice, Michel Temer terminou o mandato, mas abriu mão do direito de reeleição. Jair Bolsonaro governou o primeiro mandato e perdeu na tentativa de reeleição. Lula, que purgou 580 dias de prisão após sair do segundo mandato, foi liberto e concorreu à eleição de 2022. Desde janeiro de 2023, cumpre o seu terceiro mandato presidencial e luta para viabilizar-se no pleito de 2026.
A radicalização das diferentes correntes colocou a política brasileira no insensato clima de polarização. A maioria dos políticos trabalha para destruir o adversário quando, o melhor seria apenas tentar demonstrar ser melhor do que ele e, com isso, merecer o voto do eleitor. A temperatura na área é elevadíssima e, sem qualquer dúvida, prejudica a Nação.
Durante os anos que a radicalização cresceu, os políticos passaram a acusar-se mutuamente a judicializar suas desavenças. Provocado, o Poder Judiciário tornou-se proativo na área e hoje sofre a acusação de imiscuir-se indevidamente em assuntos de competência tanto do Executivo quanto do Legislativo (Senado e Câmara dos Deputados).
A prisão de Lula foi algo discutível – tanto que ele foi libertado e reabilitado eleitoralmente. Da mesma forma, a prisão domiciliar já consumada e a sentença contra Jair Bolsonaro, acusado de tentar golpe de Estado em 2023, carece de fundamentos. E muitas outras prisões e medidas coercitivas contra detentores de mandato são discutíveis. O País precisa recuperar os ideais de 1985 e anos seguintes.
E tratar melhor os seus agentes públicos. Não perdoar seus erros, mas evitar atropelá-los a ponto de serem tratados como párias e depois ter de libertá-los por falta de provas ou qualquer outra anormalidade. É difícil raciocinar sobre ocpositivo e o negativo em décadas.
Queremos o País acalentado pelos reformis5tas no fim do regime militar. Como elemento de reflexão, vale lembrar que das quatro décadas pós governos militares (1985-2025), o País foi governado pela direita (Bolsonaro) por apenas quatro anos; o resto foi de governos de matiz socialista. Só o PT, de Lula e Dilma esteve no poder por 19 anos. Basta verificar se melhoramos ou pioramos para, com isso, concluir quem acertou e quem eventualmente errou...
Tenente e Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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