Setor estima que quase um terço dos cabos em circulação são fraudulentos, feitos com menos cobre que o exigido por norma, superaquecem e viram combustível para tragédias
Incêndios em residências saltaram de 963 para 1.205 no ultimo ano analisado pela Abracopel
Acidentes elétricos continuam a ser uma das principais causas de mortes no Brasil. Entre 2023 e 2024, os casos cresceram de forma alarmante. Segundo a Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade), os acidentes com choques e incêndios por sobrecarga aumentaram 11,6% em 2024, totalizando 2.373 ocorrências.
O número de mortes também subiu, de 674 em 2023 para 759 em 2024, alta de 12,6%. Só os incêndios em residências saltaram de 963 para 1.205 no período. O problema ganhou novos contornos em 2025, quando, entre janeiro e março, foram registradas 18 ocorrências de roubo de fios e cabos elétricos, que resultaram em 12 mortes. Esses números escancaram a gravidade do cenário de segurança elétrica no país.
Mas, esses números mostram apenas a ponta de um problema ainda maior: a qualidade e a fiscalização dos cabos e fios que abastecem o mercado brasileiro.
Instalar materiais de qualidade é a primeira proteção contra tragédias, mas está longe de ser a única. A cada nova obra, seja na construção civil, em indústrias ou em instalações residenciais, a inspeção regular deveria ser tratada como prioridade. “A qualidade dos cabos é diretamente proporcional à segurança da instalação”, resume Enio Rodrigues, diretor executivo do Sindicel, entidade que representa o setor.
O risco é sistêmico. Em 2024, 30% dos fios de cobre usados no Brasil vieram de origem ilícita, um mercado que movimenta cerca de R$ 2,4 bilhões ao ano, segundo o SINDICEL (Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não Ferrosos do Estado de São Paulo).
Segundo Rodrigues, cabos fora de norma, muitas vezes produzidos com menos cobre do que o necessário e isolados com PVC em excesso, criam uma falsa sensação de segurança. Essa prática, chamada de “cabo desbitolado”, compromete a condução elétrica, aumenta o risco de superaquecimento e pode ser o estopim de incêndios.
“Há empresas lançando no mercado cabos que não atendem aos critérios mínimos de qualidade. Isso sobrecarrega os sistemas, eleva o consumo de energia e, no limite, coloca vidas em risco”, alerta Maurício Santana, diretor executivo da Qualifio. Criada em 1993, a entidade atua no monitoramento da qualidade de fios e cabos e denuncia irregularidades aos IPEMs (Institutos de Pesos e Medidas).
A fraude, no entanto, não é o único desafio. “O uso de cabos de alumínio revestidos de cobre, em substituição ao cabo de cobre convencional, tem se tornado frequente e igualmente perigoso. O alumínio aquece mais, pode comprometer conexões e levar a temperaturas críticas em sistemas elétricos”, explica Santana.
De acordo com o diretor da entidade, os cabos de alumínio podem ser utilizados em situações específicas. O problema, segundo ele, é que, por apresentarem diâmetro maior devido à menor condutividade do material, muitas vezes confundem o consumidor, que acaba aplicando esse tipo de cabo em circuitos com corrente superior à recomendada, comprometendo a segurança da instalação. “Além disso, vemos construtoras instalando cabos de alumínio em diferentes áreas de novas obras sem considerar a real demanda que cada ponto precisará suportar futuramente. Como são materiais de qualidade inferior, isso acaba gerando riscos significativos à segurança”, alerta.
Além disso, a fiscalização limitada é outro agravante. “O Inmetro, principal órgão regulador, enfrenta dificuldades para ampliar suas ações. Inspeções por organismos certificadores de produtos, devidamente credenciados pelo Inmetro, precisam notificar com cinco dias de antecedência, o que dá margem para que os fabricantes burlem as auditorias”, destaca Santana.
Ele relata um caso recente em que uma consumidora contratou uma construtora para a reforma de sua casa. A empresa instalou fios de alumínio em toda a ligação da rua até a residência, mesmo sabendo que a casa precisaria suportar a carga de quatro aparelhos de ar-condicionado, além de diversos eletrodomésticos a energia elétrica, como fogão, forno, coifa e chuveiros.
Maurício Santana conta ainda que a construtora iniciou a instalação corretamente, saindo do poste com fio de cobre recomendado para a situação. No entanto, no meio do trajeto, fizeram uma emenda para fio de alumínio, mascarando com o uso do material mais barato. “Essa prática coloca em risco a vida de toda uma família. É um ato de extrema irresponsabilidade, que pode ser caracterizado até mesmo como crime”, sublinha. A saída, para especialistas, passa por três frentes: fiscalização mais rígida, inspeção periódica das instalações e, principalmente, a educação do consumidor. “Se a consumidora tivesse conhecimento do assunto, ela fiscalizaria sua própria obra e exigiria a utilização de cabos de qualidade, evitando problemas futuros”, diz.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estabelece normas claras para a segurança elétrica em obras, como a NBR 5410 (instalações elétricas de baixa tensão) e a Normas Técnicas Brasileiras (NBR) 14039 (alta tensão). Mas, na prática, muitas vezes são ignoradas em nome da redução de custos imediatos.
Na ponta, empresas sérias tentam blindar seus clientes. O Brasil enfrenta uma realidade dura, mas que pode ser revertida com a conscientização dos consumidores e, principalmente, com a responsabilidade dos profissionais que atuam no mercado”, reforça Marco Stoppa, diretor comercial da Reymaster Materiais Elétricos — empresa certificada ISO 9001 há 10 anos e especializada em cabos de alta qualidade.
Ele ainda completa: “Na Reymaster só entregamos ao mercado fios e cabos certificados pelo Inmetro. Entendemos a importância dessa segurança”.
“No Brasil, onde a cada dia surgem novas ofertas de cabos baratos e falsificados, principalmente nos e-commerces, a diferença entre economia e segurança e até uma vida pode estar em um simples carretel de fio”, conclui Stoppa.
Mais informações: https://reymaster.com.br
Legenda Foto: Marco Stoppa, diretor comercial da Reymaster
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