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A Notícia Precisa

Inteligência Artificial, para o bem e para o mal

Que o clima não é bom entre os presidentes Lula da Silva e Donald Trump, todos sabemos. Além da diferença ideológica de ambos – o brasileiro de esquerda e o yankee de direita – há a agravante da alta de impostos que Trump quer impor aos 180 países que transacionam com os EUA e Lula promete revidar e, nos últimos dias, a ameaça de retaliação do parlamento e governo de Washington contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e outras autoridades brasileiras que, na adversidade, esperam a reação e defesa vindas do presidente da República.
E, para entornar ainda mais o caldo, noticiou-se que Trump teria dito em discurso no Congresso de seu pais que Lula é uma vergonha total, age como uma “superestrela global” e “a única coisa que sabe fazer é enganar as pessoas”.
A notícia verdadeira contida nesse episódio, felizmente, não é o ataque de um governante ao outro, mas a fraude criminosa que o autor praticou utilizando os recursos da Inteligência Artificial (IA). Ele pegou o discurso que Trump pronunciou no dia 4 de março, onde o Brasil foi citado apenas entre as nações questionadoras do “tarifaço” dos EUA ao comércio internacional de mercadorias e, de forma irresponsável, introduziu as ofensas a Lula. Os recursos da ferramenta levaram muitos a acreditarem na fala alterada.
Essa não é a primeira vez que Lula é espancado verbalmente via IA. A partir do momento em que o conjunto de aplicativos passou a sintetizar a voz das pessoas, alterar as palavras e sincronizá-las com a imagem e o movimento facial do autor, estabeleceu-se o império da falsificação. Enquanto ela ocorre com finalidade humorística ou até artística, nada demais, mas quando envolve chefes de Estado, é o mal maior. Recentemente circulou nas redes vídeo, também editado com recursos da IA, onde Ibrahim Traoré, líder de Burkina Faso – país da África Ocidental – aparece acusando Lula de cometer crimes diplomáticos e indicar a possibilidade de um conflito entre as duas nações. Constatou-se, porém, que a informação é falsa e o nome de Lula sequer foi citado.
A lA é um formidável avanço tecnológico e cultural, possivelmente maior do que o carvão e a eletricidade, que industrializaram o mundo, e por ora tão importante quanto o ambiente digital, como o Windows, que deu maioridade aos computadores. Em desenvolvimento desde os anos 60, a IA deve descortinar um novo universo. É, cada dia mais, uma grande ferramenta que poderá ajudar muito ao homem e suas corporações. Mas, a exemplo do que foi a imprensa, o telégrafo, o rádio, a TV e seus componentes, carece de regulamentação e controle para evitar o seu emprego criminoso e tumultuador da sociedade. Como nos meios de comunicação e do instrumental científico, não deve sofrer censura nem limitações ao seu emprego, mas receber os devidos cuidados para não servir de instrumento ao plantio da discórdia, da mentira e da falsidade. Sua produção jamais poderá ser desagregadora, mas voltada ao desenvolvimento e ao bem-estar das nações e seus povos. Os que insistirem em seu emprego no polo negativo têm de sofrer as devidas reprimendas, algo semelhante ao que se emprega a quem faz mau uso dos meios de comunicação e instrumentos tecnológicos destinados a promover e sustentar o desenvolvimento.
Além dos dois incidentes que envolveram Lula, dias atrás a IA foi também usada para piratear a fala do ex-presidente Rgentino Maurício Macri que, decepcionado, deixou a liderança do seu partido declarou o abandono da política.
A má utilização da IA carece de providências. Quem a emprega negativamente tem de ser devidamente processado e punido. O Parlamento, os centros da ciência, especialistas e as autoridades de governo têm o dever de criar as salvaguardas para garantir o bom funcionamento e o emprego regular da nova tecnologia. Quem não tomar essas providências correrá o risco de ficar atrasado na corrida científica. Da mesma forma que no passado ocorreu aos países que negligenciaram no emprego do carvão, eletricidade, transportes e outras inovações …

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).