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A Notícia Precisa

A semana decisiva das exportações aos EUA

A decisão do governador Tarcísio Freitas, de subsidiar os exportadores paulistas para o enfrentamento da tarifações – de 50% – anunciado pelo governo dos Estados Unidos, é uma concreta ação de governo pela estabilidade econômica da unidade federativa. Mas tem seus limites determinados pelo tamanho do cofre. Outros governadores também estão se mobilizando em busca de soluções para os exportadores de seus Estados. É de se esperar que o governo federal tenha discernimento para separar as diversas nuances do embate e faça a sua parte. Em vez de partir para o confronto, busque negociação que possa garantir a continuidade do trabalho dos exportadores brasileiros que comercializam suas mercadorias para o país norteamericano. Nada melhor para isso que a questão seja encaminhada através do canal diplomático e do Ministério da Indústria, Comércio e Desenvolvimento, capitaneado por Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e experimentado político de sucessivos mandatos à frente do governo de São Paulo, reconhecidamente um político muito bem preparado e moderado. Arroubos e provocações como as que temos visto tanto de Trump para Lula quanto de Lula para´Trump não levam a solução alguma. E, se o tarifaço entrar em vigor dia 1º de agosto, consolida-se o prejuízo às exportações brasileiras.
A ‘briga’ dos EUA com o Brasil, para ter expectativa de solução, precisa ser fatiada. Uma coisa é a questão tarifária, que Donald Trump vem negociando com diferentes países com quem os EUA comerciam. Já fez acordos com Japão, China, Comunidade Europeía e outros países e ao que tudo indica, não há impedimentos para que também o façam com o Brasil desde que não se generalize os desentendimentos. A questão ideológica – Trump de direita e Lula de esquerda – não deve ser complicador se ambos estiverem com boa vontade. Já os temas ligados ao Supremo Tribunal Federal, cujos ministros foram despojados dos seus vistos para entrada nos EUA e podem sofrer sanções, é uma outra questão que jamais poderá ser colocada na mesma gaveta das exportações/importações. É uma questão que deve ter tratamento próprio através dos envolvidos e pelo cotejo de suas razões. O mesmo deve ocorrer com a questão da perseguição a Jair Bolsonaro que, sozinha, tem potencial suficiente para gerar outra mesa de discussão.
É um desperdício dois países que mantêm bom relacionamento há mais de dois séculos, enveredarem pelo mar do confronto e do desentendimento por razões que, negociadas, podem rápida e facilmente ser solucionadas. As equipes de governo dos dois países têm o dever de trabalhar em busca das soluções e encontrar o ponto onde os dois governantes possam chegar a um acordo que não seja gravoso e nem prejudicial a ambas as partes. Quanto ao contencioso de ordem política e institucional, a diplomacia de ambos tem de ser capaz de encontrar o meio termo. Se não conseguirem, precisam ser reformadas por componentes mais capazes.
Brasil precisa vender suas mercadorias aos Estados Unidos e Estados Unidos delas necessitam para abastecer sua população. Não fosse isso, os negócios nem existiriam. E, para existir, tem de ser bom para ambos os lados do balcão. Não podem questões estranhas ao próprio negócio trazer prejuízos à sua concretização. A questão do comércio se resolve com a solução de problemas que os parceiros reclamam e nada mais. E as desavenças políticas, ideológicas e institucionais têm de passar por foros próprios ou não encontrarão solução.
Precisamos que, além do interesse e ação dos governadores estaduais, o governo do presidente Lula se empenhe para tratar com toda urgência da questão comercial. Resta apenas o exíguo espaço de uma semana para resolver os problemas comerciais. Depois disso, todos perderão, nos mais por sermos pequenos e os EUA menos devido ao tamanho de sua economia.
A política de Estado é diferente da feita em caráter pessoal. O Estado é um ser institucional e tem como característica tratar pontualmente de seus interesses. Diferente do ser humano que, além do quadro de interesses e prioridades, coloca na mesa também a carga emocional que, na maioria das vezes é o fator de desavença e danos a todos.
Com sua tradição de ação equilibrada e pacifista, a diplomacia brasileira precisa agir em favor da melhor solução. Jamais poderá ceder a interesses eleitoreiros do presidente da República que já corre atrás de um quarto mandato e aos seus arroubos que podem fazer boa figura junto aos seus parceiros da esquerda, mas traz problemas aos não alinhados. O proselitismo pela criação de um moeda internacional que faça frente ao dólar, as críticas a Israel, o apoio ao Hamas e ao Irã e a vinculação à Rússia podem atender aos interesses e aspirações do presidente Lula e – numa análise fria – são do seu interesse. Mas não podem criar dificuldades para o bom trânsito internacional do Brasil. Daí a necessidade de cada assunto ser tratado em seu respectivo lugar e jamais no popular jeito do tudo junto e misturado…
Ainda mais. Os governadores – se ainda puderem – devem lembrar o presidente e o governo federal que o Brasil é altamente dependente do sistema tecnológico dos EUA e não escapará do caos nos transportes, na agricultura, na indústria petrolífera, nos centros tecnológicos e até na atividade militar se não tivermos acesso ao GPS, satélites, bancos de dados e outros equipamentos operados na América do Norte. Não há aventura social, política, ideológica ou econômica capaz de compensar o que perderemos numa possível ruptura.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo).