A chapa está esquentando rapidamente. Donald Trump já enviou seis navios de guerra e respectivas tropas militares ao Mar do Caribe, para vigiar a Venezuela, combater os cartéis de drogas que operam na região e – se possível – capturar Nicolás Maduro. De seu lado, Maduro já abriu o alistamento de reservistas e pretende com isso reunir 4,5 milhões de milicianos para enfrentar as forças norte-americanas. O quadro sugere a possibilidade de ocorrer um banho de sangue e. dependendo da evolução do conflito, a instabilidade alastrar-se aos países vizinhos cujo território também é usado para o tráfico de drogas, inclusive o Brasil.
As forças de segurança brasileiras, operando em Roraima, vigiam a fronteira para evitar surpresas e, também, socorrer refugiados do vizinho país se necessário. Já temos meio milhão de venezuelanos refugiados de sua pátria e recebidos pelo Brasil.
Hoje o quadro é mais complexo que o do passado. A presença de Donald Trump à frente do governo dos EUA e as divergências do seu governo – que vem aplicando sanções a autoridades e políticos brasileiros e reprova o comportamento político-institucional de nosso país, coloca os dois governos em rota de colisão. O direitista Trump e o esquerdista Lula divergem e ainda podem chegar à desinteligência, sepultando a parceria bicentenária dos dois países. Mesmo com as dificuldades, não seria aconselhável ignorar que os Estados Unidos é um dos nossos maiores parceiros comerciais e que seu poder bélico é infinitamente maior que o nosso, além de nossas Forças Armadas serem históricas parceiras operacionais, mesmo com os treinamentos e exercícios conjuntos hoje suspensos em razão das dificuldades econômicas do Brasil. Exceto a ideologia dos governantes atuais, há mais fatores de união do que de afastamento das duas nações.
Somos partidários da discussão fatiada dos problemas Brasil-Estados Unidos – pelo que o vice-presidente Geraldo Alckmin vem lutando – para que as questões divergentes não venham colocar a perder aquelas onde os interesses e as possibilidades de acordo estão presentes. Nao devemos montar um pacote de diversidades e ter a pretensão de solucionar tudo como num passe de mágica. Cada questão tem suas próprias características e o melhor é sua mitigação até o encontro do ponto mais próximo do acordo e dos interesses de ambos os lados.
Maduro, pelas informações que vêm da Venezuela, tem sido mantido escondido já que os EUA oferecem o prêmio de US$ 50 milhões pela sua captura, valor que pode encher os olhos de supostos adversários ou até de mercenários. Ao mesmo tempo em que convoca reservistas para lutar, anuncia-se o seu propósito de fugir para a Rússia, que lhe daria asilo. Espera-se que Lula – apesar de suas boas relações com o líder do chavismo – não se meta na sua contenda com os norte-americanos. Isso equivaleria a chamá-los para a briga, o que nos parece ser um desastre principalmente diante das divergências atuais entre Brasilia e Washington. Tudo o que o governo brasileiro possa fazer para preservar as relações com os EUA num nível digno, será bom para ambos. A briga da Venezuela com Trump não nos pertence e só poderá nos trazer desgaste.
No quadro latino-americano do presente, não estamos livres da intervenção das tropas que Trump enviou à região para conter as facções e o tráfico de drogas. Mas se não deteriorarem por completo as relações entre os dois países, os “marines” poderão vir para dar força na execução das tarefas que nós, brasileiros, ainda não fomos capazes de realizar. Ruim será se, por alguma razão, vierem como tropas de ocupação.
Um em cada quatro brasileiros vive sob regras impostas por facções criminosas. Esse é um dado de um estudo da Cambrifge University. Segundo o levantamento, entre 50 e 61 milhões de pessoas (26% da população) estão nessa condição. Costa Rica tem 13%, Equador e Honduras 11%, México, Panamá e El Salvador, 9%. O Brasil tem hoje 64 facções ativas, 12 delas atuando em mais de um Estado e outros 52 com ação local. Apenas duas (Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho) são nacionais.
As informações sobre a região latino-americana e os próximos passos são contraditórias. Nos conduzem à máxima que o povo citou por vários anos no pós-guerra: “em tempo de guerra, há mais mentira do que terra”. Espera-se que a facilidade de comunicação do presente facilite os acordos e soluções e que a guerra, no sentido maior, não chegue a ocorrer…
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
A Notícia Precisa
Você também pode gostar
Vinho, música ao vivo e boa comida: Pátio Higienópolis e BB Asset apresentam Festival de Vinhos 2025
Visita a Paulínia
A eleição com voto impresso e auditável