O segundo semestre do ano começa atropelado pelas divergências políticas e econômicas entre os governos dos Estados Unidos e do Brasil. O presidente Donald Trump comunicou em carta a Lula da Silva que, a partir de 1° de agosto, será cobrada a tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos EUA. Lula mandou devolver a correspondência, anunciando retaliação e a prática de reciprocidade. Desponta no horizonte a possibilidade da deflagração da guerra comercial entre as duas nações, boas parceiras há dois séculos, desde quando se organizaram política é economicamente e promoveram o desenvolvimento das Américas. Melhor seria que se empenhassem pela negociação de acordos que pudessem compatibilizar os interesses dos dois lados.
Estados Unidos é hoje o terceiro maior parceiro comercial do Brasil. Respondeu com 14% do comércio externo brasileiro de 2024, atrás apenas de China (28%) e União Européia (14,3%. O comércio Brasil-EUA naquele ano foi de R$40,3 bilhões, com pequeno superávit para os EUA. Os principais produtos da pauta foram petróleo bruto, aeronaves, minério, café, celulose, carne e grãos.
Tradicionalmente, a tarifa incidente nos produtos brasileiros vendidos aos EUA é de 3,5%. Logo depois da posse, Trump elevou para 25% o imposto sobre o aço e o alumínio que vendemos ao seu país. Agora, com 50%, cumulativos ou não, a tendência é que as mercadorias percam a competitividade de preços no mercado internacional, o que poderá afugentar consumidores. Ainda há a possibilidade da sobretaxa de 10% que Donald Trump promete para os produtos dos países integrantes do Brics (entre os quais o Brasil).
O momento é crítico. Donald Trump reclama da política tarifária do Brasil para o mercado internacional, mas a grande questão nos parece ser política. Tanto que, na carta a Lula, reclamou e criticou o tratamento que as autoridades – principalmente o Judiciário – brasileiras têm dispensado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, as desavenças com empresas e cidadãos domiciliados nos Estados Unidos e outros problemas.
Reservamos o direito de não discutir a motivação da “briga” entre os dois maiores países e economias das Américas (do Norte e do Sul). Mas preocupa-nos que a aplicação das medidas – vença quem vencer – prejudique nossa Economia, tornando os negócios menos rentáveis e, principalmente, eliminando milhares de empregos. Pensamos que até o lado norteamericano poderá ser prejudicado porque, se eles hoje adquirem produtos brasileiros é porque estes lhes são vantajosos. Se o tarifaço inviabilizar o comércio das duas nações, quem compra e consome nossas mercadorias terá de procurar novos fornecedores e certamente, pagará mais do que ao velho parceiro do Sul.
Espera-se que Lula pense bem antes de partir para a luta com Trump de peito aberto antes de tentar o caminho da negociação. E que o assunto, embora explosivo do ponto de vista político e econômico, seja tratado com todos os cuidados pela esfera diplomática. Jamais nas redes sociais e outros meios de difusão onde qualquer questão inconvenientemente colocada poderá prejudicar tanto os contendores quanto os operadores da economia de Estados Unidos e Brasil, cuja saúde financeira dos negócios e empreendimentos depende diretamente da manutenção do fluxo bilateral de comércio.
Trump e Lula não podem perder de vista que, além dos seus interesses políticos, eleitorais e até pessoais, existem milhões de americanos e brasileiros que passarão maus momentos se o problema for conduzido ao desenlace. Apesar do nervosismo que envolve o tema, ainda acreditamos que a racionalidade do acordo continua disponível. Só a vaidade dos contendores poderá destruí-la e prejudicar a todos, mas principalmente o Brasil, ente mais fraco da relação. É como, desde menino ouvíd do soldado Zezinho, da Força Pública, meu pai e exemplo de policial; todos podem ter importância e razão, mas com quem tem dinheiro não se brinca. Os EUA respondem com 14% de nossas vendas aoexterior e nós somos apenas um pequeno n´número dentro dos 200 países que com eles negociam. Em vez de brigar, o aconselhável é negociar e buscar o equilíbrio dos intere4sses. Retaliação dificilmente nos conduzirá ao desejado porto seguro…
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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