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Bar do Nelson resgata clima boêmio ao homenagear o saudoso cantor Nelson Gonçalves

Localizado no bairro de Santa Cecília, em São Paulo, espaço idealizado pela empresária e filha do cantor, Lilian Gonçalves, é point de encontros dos amantes da boa música e da boemia

A data de 18 de abril marca mais um ano de saudade de um dos maiores nomes da música brasileira: Nelson Gonçalves, falecido em 1998. Além de cantor e compositor, foi jornaleiro, mecânico, polidor, tamanqueiro, engraxate e garçom, além de lutador de boxe e, dentre as diversas consagrações de sua história está a vendagem recorde no país, com registro de 81 milhões de cópias vendidas. Em São Paulo, os fãs e amantes da boa música que buscam relembrar bons momentos ao ouvirem canções do grande artista, contam com o Bar do Nelson Gonçalves, espaço idealizado pela empresária e filha do cantor Lilian Gonçalves, justamente, para manter vivo o legado de seu pai.

O Bar do Nelson proporciona aos frequentadores uma imersão na vida e obra de Nelson Gonçalves. O bar conta com uma decoração que remete à época de ouro da música brasileira, decorada com fotos e discos de vinil que traçam a linha do tempo da carreira do artista. Além da ambientação nostálgica, o bar oferece uma programação musical, com apresentação de música ao vivo de segunda a sábado, com casting de cantores da noite paulistana com o melhor da música brasileira. Dentre os destaques está o intérprete de Nelson Gonçalves, o cantor Nando Gonçalves, que emociona o público com sua interpretação única e emocionante que traz à vida as melodias que marcaram gerações.

Outro atrativo especial do local é a gastronomia, com cardápio que aguça os mais diversos paladares. O “Picadinho do Boêmio”, prato predileto do memorável artista, que conquista pelo sabor autêntico e marcante. Além disso, o local oferece uma variedade de porções, drinques e outras delícias gastronômicas, que proporcionam uma experiência completa para os amantes da boa comida e da boa música.

O Bar do Nelson é mais do que um simples bar: é um espaço de celebração, memória e cultura, que mantém viva a essência e o legado de Nelson Gonçalves, o eterno Rei da Boêmia.

Sobre Nelson Gonçalves

Nelson nasceu como Antônio Gonçalves Sobral, em 21 de junho de 1919, na pequena cidade de Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul. Seus pais, imigrantes portugueses, tinham acabado de chegar ao País. Durante a infância, já vivendo no bairro do Brás, em São Paulo, Nelson acompanhava o pai às feiras livres e praças. Enquanto seu Manuel tocava violão, o menino cantava em cima de um caixote. Em dias mais difíceis, seu Manuel chegava a se fingir de cego para comover as pessoas. Na infância tinha dois apelidos. Na escola era chamado de Carusinho, por sua voz excepcional. Como gaguejava, passou a ser também chamado de Metralha, já que falava cuspindo as palavras. Mesmo com a disfunção fonética, decidiu ser cantor.

Antes de chegar ao seu objetivo passou pelas diversas profissões citadas acima. Intempestivo e brigão, canalizou sua impetuosidade para o boxe. Com 17 anos, recebeu a faixa de Campeão Paulista dos Meio-Médios, após vencer 24 lutadores por nocaute e ter perdido apenas duas vezes, por pontos.

Focado em seu sonho, Nelson estudou canto acadêmico, por seis anos, com o maestro Bellardi. Aprendeu que não era gago, mas taquilárico (do grego takimós: respiração curta, acelerada). Dentre os tantos conselhos do maestro, ouviu um conselho que mudaria sua vida: deveria ser cantor popular. Como Antônio não era sonoro, adotou o nome Nelson, que considerava mais melódico.

Em 1941, conseguiu finalmente gravar seu disco de estreia, um 78 RPM contendo o samba “Sinto-Me Bem”, de Ataulfo Alves. Com a boa recepção do público é contratado pela gravadora RCA Victor, da qual jamais sairia, e pela rádio Mayrink Veiga, levado pelo cantor Carlos Galhardo. A voz de Nelson torna-se rapidamente conhecida. Logo é eleito o Rei da Rádio, em concurso promovido pela Revista do Rádio. Sua vida melhorou consideravelmente em 1943, quando consegue um emprego como crooner do Cassino do Copacabana Palace Hotel.

Nelson Gonçalves fez grande sucesso nas décadas de 1940 e 1950. Alguns de seus grandes sucessos dos anos 40 foram “Maria Bethânia” (Capiba), “Normalista” (Benedito Lacerda/ Davi Nasser); “Caminhemos” (Herivelto Martins) e “Renúncia” (Roberto Martins/Mário Rossi).

Em 1952, passou a viver com Lourdinha Bittencourt, substituta de Dalva de Oliveira, no Trio de Ouro, com quem tem três filhos (sendo dois adotivos). É uma das melhores fases da vida do artista. No mesmo ano conhece aquele que seria seu melhor parceiro e grande amigo: Adelino Moreira, um dos maiores letristas e compositores do gênero samba-canção, que compôs para Nelson mais de 370 músicas (algumas feitas em parceria com o próprio Nelson Gonçalves, como “Fica comigo esta noite”.

Da parceria, nasceram alguns dos maiores sucessos do cantor, como “A volta do boêmio”, “Deusa do asfalto”, “Êxtase e Escultura”. As músicas tinham, sempre, temas românticos, em geral arrebatadores, repletos de histórias de amores perdidos e imortais apropriadas à voz de grande extensão de Nelson Gonçalves que, aliás, se gabava por usar apenas um terço de sua capacidade.

Chegou a gravar músicas de diversos nomes da nova geração da música brasileira e com grandes nomes do rock nacional, como Ângela Rô Rô (Simples Carinho), Kid Abelha (Nada por Mim) e Lulu Santos (Como uma Onda). Em 1984 lançou Eu e Elas, em duetos com Alcione, Ângela Maria, Beth Carvalho e outras divas da música brasileira; Em 1985 lançou Eu e Eles, com duetos com Caetano Veloso, Fagner, Luiz Gonzaga, Tim Maia e outros grandes cantores da MPB.

Nelson Gonçalves se dedicou durante mais de 50 anos à sua grande paixão: a música. Durante sua carreira, gravou mais de 2.000 canções, 183 discos em 78 rpm, 128 LPs e 300 compactos. Vendeu mais de 81 milhões de discos. Ganhou 38 discos de ouro e 20 de platina. Também foi agraciado pela RCA com o Prêmio Nipper, recebido apenas por ele e por ninguém menos que Elvis Presley. Por seu último disco, Ainda é Cedo (1997), Nelson iria receber o disco de ouro.

O artista morreu em 18 de abril de 1998. Durante os anos que precederam sua morte, se definia como o “último dos moicanos”, referindo-se ao seu estilo de cantar, que empregava o vozeirão, do qual dizia nunca ter cuidado, citando como exemplo o fato de ter fumado durante 60 anos, até 1995. No plano pessoal, além dos casamentos com Elvira Molla, Lourdinha Bittencout e Maria Luíza da Silva Ramos.

De seu relacionamento, com Maria (ex-cozinheira do presidente Juscelino Kubitschek), nasceu Lilian Gonçalves, que teve sua história de vida contada na minissérie JK da Rede Globo, interpretada pela atriz Mariana Ximenez. Lilian Gonçalves já era conhecida como a Rainha da Noite de São Paulo, quando se aproximou do seu pai. Guardou por muitos anos a informação de quem era o verdadeiro pai, revelando somente quando Nelson já estava mal de saúde.

Na década de 1990 foi encenado nas principais capitais do país o musical “Metralha”, uma versão dramatizada de sua biografia, Em 2001 foi lançado o documentário “Nelson Gonçalves”, que contou sua trajetória, protagonizado por Alexandre Borges e Julia Lemmertz, com direção de Elizeu Ewald e produção executiva de Margareth Gonçalves, caçula de seu casamento com Lourdinha Bittencout.