‘Pensar Global, Agir local’: O poder do consumo consciente

A expressão “Pensar Global e Agir local” já é lema em muitas esferas de discussões políticas, econômicas, sobre sustentabilidade e solidariedade. O slogan propõe pensar e refletir mais as ações responsáveis de empresas e consumidores em relação ao planeta, mas também com uma conscientização quanto às atitudes locais, como no bairro e na cidade em que se mora. É, de certa forma, um paradigma a ser quebrado. Como focar em pequenas atitudes visando impactar todo o globo?

Redes de consumo local, de serviços e produtos, crescem com essa temática, tendo uma missão e uma proposta clara. Criar vínculos locais entre produtores, comerciantes e consumidores, a fim de minimizar os impactos ambientais, o consumo de combustíveis fósseis, e de outras demandas necessárias no transporte de bens.

Nesta pandemia da Covid 19 fala-se muito que a “melhor forma de cuidar do outro é cuidar de si mesmo”, por isso, a necessidade de se usar máscara, álcool em gel, manter o isolamento, dentre outras medidas. No intuito de proteger também as pessoas à nossa volta.

Devido ao fenômeno da globalização, muitos consumidores vinham sendo estimulados, sem perceber, a acreditar que para se ter bons produtos ou serviços é preciso buscar longe. E quase sempre, fora do seu próprio país: picanha argentina, café colombiano, vinho italiano, pimenta da índia, jaqueta dos EUA. Tudo para se alcançar um padrão de consumo ou status, que reflita os anseios próprios do comportamento humano.

Porém, muitas vezes, são ideias abundantes em consumismo, mas carentes de sentido ou finalidade. Afinal, o que vem de longe, “de fora”, é “superior”, “chic”, mais cool, mais legal e refinado, do que o aquilo que está pertinho de casa, ao alcance das mãos? Nem o google responde.

É necessário e fundamental criar, a partir da mudança do hábito de consumo das pessoas, o pensar global, mas com foco na realidade local. É importante comprar arroz dos plantadores da cidade vizinha, pois ali serão geradas novas riquezas que irão, até certo ponto, impactar e contribuir para que essas pessoas da zona rural se mantenham em suas propriedades e não precisem ir morar nas periferias das grandes cidades, como se tem visto. O êxodo rural, observado em larga escala nos anos de 70, 80 e 90, e ainda hoje, se dá pela ausência de redes locais de consumo e integração entre produtores e consumidores.

As grandes marcas e grifes, não em poucos casos, buscam o caminho inverso: procuram produzir apenas onde conseguem ter mão de obra mais barata. Quem nunca comprou um tênis, ou vestuário, e observou a inscrição da etiqueta de algum país distante ou pouco desenvolvido? Nada contra o país, mas contra o modelo de negócio baseado apenas no lucro e consumismo que são impostos.

O desafio, que muitos jovens já entenderam e colocam em prática, é deixar de lado o pensar global no sentido de consumo, mas enxergar o planeta como pequenos fluxos de vidas, famílias, bairros e cidades. Se a minha e a sua cidade vão bem, o planeta tenderá a caminhar melhor.

A globalização das cadeias de suprimento global, necessária para algumas mercadorias e commodities como petróleo, algodão e trigo, em outros casos, pode ser substituída pelo pequeno produtor da zona rural onde vivemos. Frutas, verduras, livrarias, papelarias e serviços em geral podem estar a poucos quarteirões da sua casa.

Talvez, esses produtos, não sejam entregues por drones, ou em serviços expressos de dois ou três dias de prazo. Por outro lado, podem sustentar o emprego da lojinha que sua tia trabalha, uma vez que são muito mais impactantes na manutenção de microempresários, considerados a base da economia brasileira. 

As redes locais de produtos e serviços são uma resposta local que, a cada dia, como ideia, toma escala global. Ganha quem compra consciente e, mais ainda, quem vende local. Cidades inteligentes favorecem suas próprias cadeias de suprimentos, e se tornam positivamente impactantes, sustentáveis e socialmente solidárias.

* Prof. Ms. Bruno Cunha, missionário da Comunidade Canção Nova, é economista, com 20 anos de experiência em Finanças, Macroeconomia, Mercado Financeiro, Educação Financeira, Finanças pessoais e Administração Financeira e Orçamentária. Mestre em Desenvolvimento Regional pela UNITAU; MBA pela FGV e graduação em Ciências Econômicas pela UFPE. Atualmente, professor e assistente de coordenação do curso de Administração na FCN.

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