Apesar dos 24.512 mortos oficialmente reconhecidos, a pandemia do coronavírus ainda é menos letal que a da gripe espanhola, de 1918. Cem anos atrás, éramos 28,9 milhões de habitantes e os registros indicam que morreram 35 mil. Com população de 211 milhões, se hoje tivéssemos o mal na mesma proporção, pereceriam pelo menos 250 mil brasileiros. Ainda bem que governadores e prefeitos começam a suspender, mesmo que gradativamente, a discutível quarentena, ou pelo menos a tornam mais “inteligente”, como diz o governador João Dória. Se continuassem não permitindo a volta ao trabalho e à produção, correríamos o risco de a pandemia de hoje deixar a comparação com a gripe espanhola e encontrar o seu paralelo na crise de 1929, quando a economia do mundo entrou em parafuso a partir do “crash” da Bolsa de Nova York. Naquele ano o Brasil perdeu, da noite para o dia, todo o mercado do café, seu principal produto, responsável por três quartos das exportações nacionais.
No quadro de hoje, ninguém é capaz de prever por quanto tempo ainda teremos de conviver com cuidados e restrições para evitar a contaminação. Por isso, os governantes precisam buscar o consenso e adotar medidas coordenadas e eficientes para a Saúde, mas com o menor impacto possível à Economia. Não deveriam ouvir apenas os radicais cultores do isolamento horizontal, já que têm à disposição especialistas em saúde igualmente experientes, que pregam soluções mais brandas e também eficientes. O raciocínio é antigo, mas serve para o momento: a virtude mora no meio, não nos extremos.
A população, no próprio interesse, deve de cumprir as medidas sanitárias e comportamentais aconselhadas para manter baixa a transmissão do vírus. Continuar usando máscara, evitando aglomerações, lavando as mãos com frequência e não entrando em casa ou nos locais de trabalho com as mesmas roupas e, principalmente, os calçados utilizados em áreas públicas ou de grande circulação.
Essa não é a primeira – e nem será a última – pandemia, epidemia ou surto a correr o mundo. Nas anteriores, não chegamos ao extremo de parar tudo, recurso adotado agora em razão do desconhecimento das peculiaridades do vírus e porque, no Brasil, o setor da Saúde já se encontrava em crise, fruto de décadas de negligência, impropriedades e até corrupção sobre os recursos destinados à área. O isolamento total soa como precaução para não extrapolar o número de doentes em relação às vagas disponíveis, o que colocaria às claras para a população a incompetência de governos de um mesmo grupo ou tendência político-ideológica que detém o poder estadual há quase quatro décadas.
Quando tudo terminar, espera-se que os centros científicos continuem a pesquisa para conhecer o mal e produzir medicamentos eficientes ao seu combate. E que os governos, finalmente, passem a investir o necessário na estrutura da Saúde Pública. Para, na próxima tormenta, não sermos pegos tão fragilizados como ocorreu na chegada da Covid 19…
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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