A Covid-19, a vacina e as festas

Chega à notícia de que o Reino Unido aprovou os testes da vacina contra a Covid-19 e começará a vacinar sua população nos próximos dias. Também são auspiciosas as informações de que no Brasil os testes seguem bem e que o governo já dispõe de recursos para a compra das fórmulas. Mas é preocupante o viés político – inconveniente desde que a pandemia chegou – que ainda se faz presente. O confronto entre o Ministério da Saúde, o presidente da República e o governador João Dória em nada ilustra tanto o trabalho quanto as pessoas. Mas serve para intranquilizar a população, que espera ansiosamente a chegada da droga imunizante. Enganam-se os que pensam poder levar alguma vantagem ao estabelecer o clima de discórdia dentro de um tema tão urgente e de interesse geral.
Nós, o povo, não dispomos de credenciais para avaliar se são corretos os prazos do Ministério da Saúde, que prevê vacinação a partir de março. E nem para opinar se é possível legal e tecnicamente a vacinação já em janeiro, como anuncia enfaticamente o governador paulista. Sabemos apenas que a contenda não é salutar. Melhor seria que, antes de trazer a divergência a público, procurassem a linha de entendimento e, com o aporte científico, chegassem à conclusão técnica mais adequada, sem qualquer viés ou preferência política. O país possui conhecedores credenciados para dirimir as dúvidas e proporcionar essa tranquilidade, e os governantes e seus auxiliares deveriam ter sensibilidade para saber disso e aceitar a mediação dos conflitos.
Até a discussão de estarmos (ou não) entrando num repique dos casos de Covid-19 deveria ter esclarecimento de um leque maior de figuras insuspeitas e sem vinculação política ou ideológica. São mais confiáveis os cientistas de carreira do que as autoridades sanitárias e políticas nomeadas pelos governos. Até porque, esses têm seu dia-a-dia dentro das universidades e institutos de pesquisas e, aconteça o que acontecer, não serão demitidos por governantes voluntariosos ou interesseiros que possam vir a contrariar.
Todo o quadro hoje colocado é altamente preocupante. Não obstante a orientação para o uso de máscara, álcool gel e distanciamento, o nível de infecção voltou a subir e boa parte da população se comporta como se a pandemia já fosse coisa do passado. O componente novo que agora se apresenta é a reinfecção. Pacientes que já tiveram a Covid-19 e foram dados como curados voltam a testar positivo. Isso é muito sério e deveria servir, pelo menos, para orientar a população a não baixar a guarda. Lembremos que a pandemia e o vírus estão presentes e quem não se cuidar será infectado e poderá ser reinfectado até mais de uma vez (se resistir). A população precisa ser orientada devida e seriamente sobre os riscos que corre por procedimentos inadequados. Em vez de rompantes e intolerâncias que vão da ameaça de mandar a polícia para eventos familiares até a vacinação obrigatória, os governantes e seus áulicos fariam melhor se investissem mais na orientação e na seriedade de procedimentos. Uma das importantes armas para chegarmos ao final do mal epidêmico é a credibilidade. O povo precisa acreditar na eficiência das vacinas e, também, na sinceridade e competência daqueles que a aconselham – e jamais poderão obrigar – a sua aplicação.
Independente da razão seria desastrosa a ocorrência de uma nova “revolta da vacina” em pleno Século XXI…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).

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