A cloroquina contra o Coronavírus

A cloroquina, medicação utilizada classicamente no tratamento da malária, tem efeito antiviral documentado contra o HIV, o vírus Influenza, o enterovírus EV-A71, o vírus Zika, e espécies de coronavirus, inclusive com ação antiviral contra o SARS-CoV-2 em experimentos in vitro.

A hidroxicloroquina, análogo da cloroquina com perfil mais favorável de segurança e interações medicamentosas, é utilizada no tratamento de doenças autoimunes por seu efeito imunomodulador, e também se mostrou ativa contra SARS-CoV-2 em experimentos in vitro.
Entretanto, a hidroxicloroquina possui uma característica farmacológica que a torna uma péssima candidata para tratamento de infecção viral aguda, como a COVID-19. Trata-se da lenta metabolização e, consequentemente, acúmulo no lisossomo onde sobre protonação, que aumenta sua concentração em carca de 1000 vezes à observada no plasma. São as concentrações capazes de induzir o efeito imunomodulatório. Considero, portanto, que teremos problemas sérios para que a medicação exerça seu efeito contra o SARS-CoV-2. Além disso, a concentração inibitória do remédio no trabalho que o Sergio enviou mostra que são necessárias concentrações relativamente altas para atingir os valores das observações in vitro.
Considerando a ação antiviral em estudo clínico, seguem dois comentários.

  1. O primeiro trabalho de Gao J et al (Biosci Trends 2020 Feb 19) é uma piada de mal gosto. Nunca vi um artigo com que diz no título EFICÁCIA APARENTE (chloroquine phosphate has shown apparent efficacy in treatment of COVID-19), sem mostrar nenhum dado. Deixa eu repetir, nenhum dado.
  2. O segundo trabalho que circulou desde ontem Gautret et al. (International Journal of Antimicrobial Agents 2020) é um horror. Começa que não tem desfecho clínico e só se baseia em detecção de vírus em secreção respiratória. Mas seguem os problemas. Primeiro: não há diferença entre placebo e cloroquina. Ponto. Mesma excreção de vírus. Segundo, o resultado de suposta melhora em associação com azitromicina só é observado em 6 (seis!) pacientes, sem nenhuma descrição de efeito clínico.

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